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segunda-feira, 29 de março de 2010

Poema: O punho e o Sol

Homem que tira leite de pedra
Trincando os dentes, de mão rachada
Garante que o sol não quebra
Ao som estridente da enchada
A força do punho tenaz

Imponente feitor seca a folha e a face
Queima o solo e a esperança
Ilumina a terra quando nasce
e o olhar que longe lança
Mas não torna o punho incapaz

O brilho do sol no leste
Que cedo desponta da serra
De igual beleza no oeste
Quando à tarde o dia encerra
Não muda o que o punho faz

Desde criança essa luta
Trabalha, casa e tem filho
Untando o sol com a labuta
Plantando feijão e milho
O punho do homem não jaz

Quando o sol, distraído, vacila
E a chuva o trabalho compensa
O solo antes roto cintila
Mas o homem vivido já pensa
Baixar o punho jamais

Sereno e cansado no olhar
Nas mãos vê os calos que fez
Sem saber o que vai encontrar
Vê o sol pela última vez
O punho descança em paz

Este poema está no livro I Antologia Poética:
Novos Poetas do Cariri Paraibano

segunda-feira, 15 de março de 2010

Poema : Quase um poema

Gosto de poesia
Mas sou apenas um quase poeta
Sou mesmo um escritor (ou quase)
Quase escrevi grandes romances
Romances quase importantes
Quase romances grandiosos
Livros quase raros

Quando morri, quase fui esquecido
Quando vivi, quase sempre morri
Quase consegui ser o que queria ser:
Ser um quase líder
Um quase professor
Quase grande
Quase...

Quase consegui amar incondicionalmente
Quase fui feliz
Quase livrei-me do céu e do inferno
Quase fui inconsequente
Quase fui um eterno aprendiz
Quase fui moderno

Quase escrevi um grande poema
(tão belo e sincero
quanto aqueles que quase inteiramente entendi
e que os Grandes Mestres quase sussuraram-me aos ouvidos)

Estou quase satisfeito com meu feito
Que quase consegui bem concluir

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Palavra primeira

Da fricção entre a realidade externa e a realidade subjetiva do autor, o resultado é a ficção. ao friccionar a língua sobre o seu fito, e vice-versa, o autor obtém o texto literário, ou seja, sua realidade fictícia. Quando ficciona os fatos, as imagens, os outros e a si próprio, o autor decide, inexoravelmente, produzir um contínuo movimento de fricção. A despeito de toda fricção causar, inevitavelmente, desgaste entre os corpos, o desgaste desta f(r)icção, não mais que os lapidará. Logo, podemos dizer que a ficção literária é inversamente proporcional a fricção dos corpos que a produz; ou pelos menos, deveria ser.